25.4.05

25 de Abril

Há um momento que define bem o 25 de Abril. Quando os revoltosos estão no Terreiro do Paço e se aproximam forças fiéis ao regime, o capitão Salgueiro Maia dirige-se-lhes para tentar convencer a aderirem ao golpe. Vai em direcção a essas forças a pé, sozinho e desarmado. À sua frente um conjunto de blindados com poder de fogo suficiente para pôr termo à Revolução. O comandante das forças fiéis ao regime, brigadeiro Junqueira dos Reis, ordena ao alferes Fernando Sottomayor que dispare sobre Salgueiro Maia e sobre os seus homens, o que resultaria inevitavelmente num banho de sangue.

Mas o alferes recusa. Talvez por não querer disparar sobre um homem desarmado, de braços no ar. Talvez por já não acreditar no regime. O comandante, furioso, diz-lhe: "Você já estragou a sua vida!" e manda-o prender. Ordena então a um cabo que substitua o alferes e dispare. O cabo também recusa. Vários militares das forças de Junqueira dos Reis passam-se para o lado dos revoltosos.

O resto já se sabe: o povo adere em massa no Largo do Carmo, já ninguém defende o regime, a ditadura cai - afinal tinha pés de barro.

Aqui sobressai o melhor do 25 de Abril: a coragem, de Salgueiro Maia e de Sottomayor; a vitória da vida e da dignidade humanas sobre a obediência cega a uma autoridade injusta.