22.11.05

Mundo cão



Há duas formas de abordar a política: uma mais analítica (Sociologia Política, História Política, Psicologia Política, etc.), a outra mais pragmática (intervenção nos processos políticos).

Sempre gostei das duas, mas também sempre tive a certeza que um dia me ia dar mal com a segunda. É realmente um mundo cão.

PS: as minhas desculpas ao cão da foto, que não tem culpa nenhuma; foto retirada do site Sr. Cão.

10.11.05

Para reflectir...

... os textos de Vital Moreira (aqui) e de Ana Gomes (aqui, aqui e aqui) no blog Causa Nossa, sobre Paulo Pedroso e o Ministério Público.

O grande problema é que a situação coloca em grande dúvida a credibilidade do Ministério Público. Que as pessoas não confiam grandemente nos políticos, é sabido. Mas não confiam porque consideram (com ou sem razão, não interessa para aqui) que estes têm objectivos que muitas vezes nada têm a ver com a melhoria da sociedade. Já no que toca às instâncias judiciais, penso que até recentemente havia a convicção que funcionavam de forma independente. Os casos "autárquicos" e, agora, o caso de Paulo Pedroso (e, em menor medida, os de Herman José e de Francisco Alves), vieram pôr essa convicção em causa.

No caso Casa Pia, espero que, de uma vez por todas, se apure toda a verdade e que os culpados sejam condenados exemplarmente. Mas não está fácil para o cidadão comum ter a certeza de onde mora a verdade.

Parlamento português

No Abrupto de hoje, um texto enviado por uma leitora (Madalena Ferreira Åhman) que descobriu no Shorter Oxford English Dictionary a seguinte expressão: Portuguese parliament. Pelos vistos, na gíria náutica, parlamento português significa uma discussão em que muitos falam ao mesmo tempo e poucos ouvem. Conclui a leitora: «A fama da Assembleia da República chega longe!»

9.11.05

JPP sobre a França

No Abrupto, anteontem:

«Num artigo de hoje do Libération , que se queixa de que o “Estado abandonou os bairros sociais (as “Cités”)”, percebem-se três coisas:

a enorme rede de subsídios e financiamentos estatais típicos do “modelo social europeu”. O artigo cita a crise das acções de alfabetização, financiamentos do Fasild (antigo Fundo de Acção Social), acções de prevenção com adolescentes, programa de empregos-jovem, acções com mulheres, associações subsidiadas (o exemplo é uma intitulada Sable d’Or Mediterranée) que fazem acções de inserção, acolhimento dos recém emigrados, acesso à cultura, teatro de adultos, iniciação ao cinema, vários projectos artísticos e culturais, etc., etc.;

a enorme quantidade de pessoas que trabalha nestes programas, associações, ONGs, que são elas próprias um grupo de pressão para o aumento dos subsídios e o alargamento dos apoios estatais, e que, não é por acaso, aparecem nesta crise como as principais vozes “justificando” a “revolta dos jovens”;

e, por último, o enorme contraste entre o modo europeu de “receber” e integrar os emigrantes envolvendo-os em subsídios e apoios, centrado no estado e no orçamento, hoje naturalmente em crise; e o modo americano que vive acima de tudo do dinamismo da sociedade que lhes dá oportunidades de emprego e ascensão social.»

8.11.05

Matrículas e seguradoras

Através deste site podem saber qual a seguradora de qualquer veículo. Basta inserir a matrícula.
É bastante útil para aqueles casos em que a pessoa bate e foge.

Não precisam de agradecer...

7.11.05

Importam-se de repetir???

Parte do espólio da Comissão dos Descobrimentos desapareceu

«O Tribunal de Contas detectou que parte do espólio da Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos, estimado em cem mil euros, desapareceu no processo de extinção desta entidade, concluído em 2003.

As conclusões constam de um relatório do Tribunal de Contas (TC), hoje divulgado, resultante de uma auditoria financeira realizada este ano à gerência de 2003 da Secretaria-Geral do Ministério da Cultura (SGMC).O TC detectou uma diferença de cem mil euros no inventário realizado pela Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP), que rondava os 486 mil euros, e no realizado pela SGMC, num total de 385 mil euros.»

In Público de hoje. Para ver notícia completa, clicar aqui.

No meio da loucura, ainda há esperança

O rapaz palestiniano de 12 anos que foi atingido por soldados israelitas quando segurava uma arma de brinquedo na mão não sobreviveu à gravidade dos ferimentos e a família anunciou anteontem a sua morte.

Onde está a esperança? É que a família do rapaz anunciou também que irá doar os seus órgãos, não se importando se serão transplantados para criança(s) judias ou palestinianas. Uma lição para radicais de ambos os lados.

A Pousada do Freixo

Mais um exemplo de jornalismo duvidoso na nossa praça. Quando Rui Rio anunciou um acordo para instalar uma Pousada nos edifícios do Palácio do Freixo e das Moagens Harmonia, logo começou a contestação: que era entregar a um grupo privado, que era preciso assegurar o usufruto público (como se sabe, era frequentíssimo...), que ia desvirtuar um espaço que estava recuperado e que, no caso das Moagens Harmonia, era ainda por cima um exemplar único. Como os jornalistas afirmam estas coisas sem confirmação, não sei. Vão na onda do esquerdisticamente correcto - que, como se sabe, adora dizer mal de grandes grupos económicos privados, sobretudo quando estão na oposição.

Por isso, vale a pena ler o que escreveu no Público de 6 de Novembro passado um especialista em património industrial:

«É inacreditável que, na tentativa de se contestar a instalação da pousada se afirme (ver PÚBLICO, de 6/6/2005) que "a tecnologia alemã que tornou a sua construção possível faz do imóvel um raro exemplar de arquitectura industrial", ou que "foi construído de uma forma inovadora - com materiais como o ferro, a pedra e a madeira". A dita "tecnologia alemã" não foi mais do que a de um mestre-de-obras dos arredores do Porto. E ficamos também a saber que a simples, e mais do que comum, utilização do ferro, pedra e madeira lhe conferiu características "inovadoras", para não falar já desse invejável atributo que é a sua "singular verticalidade" ou do facto de "vibrar na sua totalidade durante o trabalho das máquinas a vapor, sem desmoronar". É que, apesar da sua singeleza, seria impossível que o mesmo desmoronasse, para além de que só havia uma máquina a vapor, cuja "vibração" de modo algum ameaçava a segurança do edifício. »

Para ler todo o texto - vale a pena! - clicar aqui.

4.11.05

Vasco Pulido Valente

Mário Soares começou a sua ofensiva numa direcção previsível, dizendo que o prof. Cavaco não pode ser Presidente da República, porque não tem uma “cultura humanística” e não passa, no fundo, de um puro técnico com uma visão estreita e viciada das coisas.

Nada mais natural que Soares pense e acredite nisto. Nasceu numa família política (o pai era uma personagem importante do partido de Afonso Costa), cresceu num ambiente dominado pelo marxismo (Álvaro Cunhal foi, para ele, um professor e um mentor) e viveu durante meio século as polémicas teológicas da esquerda. Para resistir ao comunismo, uma ideologia “totalitária” (não gosto da palavra, mas não há outra melhor), Soares precisou de saber alguma filosofia e alguma história (até se formou em Histórico-Filosóficas, com uma tese, salvo o erro, sobre Teófilo Braga) e também de se interessar a sério pela arte e pela criação artística, nomeadamente por pintura e literatura, por causa da “teoria” do “realismo socialista”, que Estaline tentou impor em toda a parte. [...]

Cavaco, esse, veio de um meio relativamente pobre e, presumo, apolítico; e ficou confinado, por necessidade ou falta de estímulo, à sua profissão. Além disso, achava (e não faço ideia se ainda acha) o pensamento económico mais do que bastante para explicar o mundo, no que aliás se não distingue da generalidade dos colegas, uma classe particularmente pouco lida e intelectualmente limitada. Só depois, tarde na vida e já primeiro-ministro, descobriu que existia uma realidade irredutível à sua egrégia disciplina. E mesmo assim volta sempre à origem, como, por exemplo, na famosa metáfora da boa e má moeda, que ajudou a liquidar Santana.

Posto isto, sobra uma pergunta óbvia: a diferença cultural entre Cavaco e Soares — essencialmente uma diferença de época, de família e dinheiro —pesa num Presidente da República? E a resposta é “não”. Pesa num almoço, não pesa em Belém. [...]

Vasco Pulido Valente, Público, 4-11-2005

2.11.05

E agora para algo completamente diferente...

«A Câmara de Barcelona aprovou uma extensa lista de normas de convivência para punir comportamentos anti-cívicos. Vomitar, urinar, defecar, cuspir, pintar graffiti, colocar cartazes fora dos locais próprios, mendigar na rua, exercer a prostituição ou fazer venda ambulante não autorizada passa a custar dinheiro em 2006. As multas vão dos 120 aos três mil euros.

"Este é um pacote de medidas para garantir e assegurar a convivência na cidade que introduz o conceito de garantia pela tipificação de algumas atitudes", explicou a vereadora Assumpta Escarp, vereadora do pelouro da cidadania da Câmara. Junto com o alcaide socialista Joan Clós, Escarp defendeu as novas normas que entram em vigor no primeiro dia do próximo ano, por entre alguma surpresa e incredulidade. Mesmo os parceiros dos socialistas na vereação fizeram reparos a uma lista considerada excessivamente normativa e que, pelas penalidades previstas, se vai converter em fonte de receita.

Contudo, há certa justificação para alterar a legislação em vigor, que data de 1998. De cidade modelo nos anos 90, Barcelona está a passar por uma progressiva degradação, como revela a opinião dos seus habitantes nas diversas sondagens: a cidade está mais suja, o trânsito mais caótico e a vida é mais difícil. O cosmopolitismo da última década do século passado, que converteu a urbe num ex-líbris cujas ruas são repetidamente utilizadas para rodar filmes ou anúncios de televisão, trouxe também comportamentos indesejáveis. A venda ambulante, sobretudo os denominados "top-manta", a venda de CD"s pirata colocados sobre uma manta no pavimento, e a mendicidade "agressiva", pela qual se define o comportamento dos imigrantes que limpam os pára-brisas nos semáforos em troco de alguns cêntimos, são fenómenos que têm a ver com as crescentes correntes migratórias. Razão pela qual não é uma norma camarária que os vai resolver, havendo mesmo polémica se uma autarquia tem possibilidade de legislar sobre estas matérias. Embora correndo o risco de este regulamento ser considerado hipócrita - por querer esconder o que existe -, o executivo municipal de Barcelona não hesitou.

A prostituição de rua, sobretudo na parte velha da cidade, que as aventuras do detective Pepe Carvalho [personagem dos livros de Montalbán] tornaram célebre em todo o mundo, passa a ser punida: não só para quem oferece os seus serviços, mas também para o cliente. O mesmo sistema vigora no caso dos "top-manta", com as multas a serem para quem vende e quem compra. Fazer sexo num espaço público perturbando os cidadãos ou próximo de uma escola consta, também, do catálogo de proibições ou de multas. Já se admite que namorar em Montjuic, local afastado e habitual ponto de encontro dos barceloneses apaixonados, não será punível.

Será o senso comum a presidir à aplicação das normas pela Guarda Urbana, a polícia municipal da cidade. Assim, beber uma cerveja enquanto se come uma sandes e se passeia pelas Ramblas não terá o mesmo enquadramento que organizar a altas horas da noite uma festa na rua à volta de uma litrona, uma garrafa de litro de cerveja, perturbando o sono dos habitantes da zona.

A normativa estuda casos concretos. O dos estrangeiros apanhados em falta, que devem pagar a sanção quando são detectados. Caso não o façam a Câmara accionará a via penal, através da figura de desobediência à autoridade. Também se o infractor for menor de idade, a sanção pecuniária é substituída por medidas correctoras: da frequência de sessões formativas a trabalhos para a comunidade ou qualquer outra actividade de carácter cívico. Por fim, a lei prevê a possibilidade de oferecer compensações aos cidadãos que denunciem situações vinculadas a mafias organizadas. Consciente de que este pode ser um terreno pantanoso, o alcaide Clós sublinhou: "Não é um sistema de denúncia estalinista."

Multas
Pintar graffiti 120 a 3000 euros
Prostituição, oferecer e solicitar 100 a 500 euros
Urinar na rua 120 a 1500 euros
Venda e compra ambulante 120 a 500 euros
Consumo de álcool quando perturba 750 euros»

Por Nuno Ribeiro, in Público, 31.10.2005