[...] Para esta segunda conferência-debate escolhemos um tema de enorme importância para o presente e o futuro da nossa Democracia [A Democracia e os Meios de Comunicação Social].
A realidade política, como todas as realidades sociais, não existe em si mesma, mas apenas para nós. Cada um tem a sua própria visão ou interpretação da realidade política existente.
Essa interpretação pessoal que todos nós fazemos, em maior ou menor grau de profundidade, do que se passa no dia-a-dia político, é condicionada por inúmeros factores: as origens familiares, o ambiente social, as nossas próprias experiências passadas, a nossa personalidade, as nossas crenças e convicções, as nossas capacidades cognitivas, até o nosso estado de espírito no momento em que tomamos conhecimento de um dado acontecimento político. Todos estes factores influenciam a formação das nossas opiniões políticas.
Mas há ainda um outro factor, que assume uma importância fundamental: as fontes de informação política que temos disponíveis. Efectivamente, só podemos reflectir acerca daquilo que conhecemos, isto é, daquilo que nos é transmitido por uma determinada fonte de informação.
Ora, qual é hoje a principal fonte de informação dos acontecimentos políticos para o comum dos cidadãos? São os meios de comunicação social: os clássicos (jornais, rádios e TVs) e, cada vez mais, os electrónicos (internet, sobretudo).
Na última campanha eleitoral, para a eleição do Presidente da República, e comparando com eleições anteriores, praticamente não vimos comícios, sessões de esclarecimento ou debates. Nem tão-pouco vimos manifestos ou panfletos. A mensagem política passou, quase exclusivamente, pela comunicação social.
Esta é, pois, uma enorme responsabilidade dos media: a de serem, cada vez mais, a principal (se não a única) fonte de informação política. Que desafios e problemas coloca esta crescente responsabilidade? É esse um dos pontos que eu deixo para debate.
Mas a responsabilidade da comunicação social resulta também do facto de ser considerada pelos cidadãos como uma fonte independente, por um lado, e especializada, por outro. Nós ouvimos um político e sabemos que ele nos está a tentar convencer das suas razões e ideias - e muito bem, é normal que assim seja. Mas quando nós sabemos que alguém está a tentar convencer-nos de algo, levantamos sempre uma certa resistência ao que nos é dito: "Bom, vamos lá ver se ele nos diz isto apenas para nos convencer ou se as coisas se passam mesmo assim". E isto também é natural.
Com a reportagem política de um jornalista não sucede o mesmo. Nós encaramos a sua mensagem como a de alguém que está tão-só a relatar um acontecimento e não como a de alguém que nos está a tentar convencer de algo. E, portanto, somos muito mais influenciáveis pelas opiniões políticas dos jornalistas do que pelas próprias opiniões dos políticos. Esta é a segunda responsabilidade que impende sobre os profissionais da comunicação social que eu queria trazer para este debate.
E há ainda uma última responsabilidade dos media. É que hoje os cidadãos já não vêem a comunicação social como uma mera fonte de informação mas também como um intermediário político. Quando alguém quer intervir politicamente, quando quer que seja tomada uma determinada decisão política, o que faz? Procura captar a atenção dos jornais, rádios e TVs! Cortam-se estradas, queimam-se pneus, enfim, toda uma panóplia de actos espectaculares que procuram fazer a comunicação social transmitir o seu protesto ou anseio. O que é importante é que a sua mensagem passe nos media e, dessa forma, chegue aos responsáveis políticos. Assim, as tradicionais formas de participação política começam a decair: o voto desce, a abstenção sobe; o contacto directo eleitores-eleitos desce, o contacto eleitores-eleitos através da comunicação social sobe...
Tudo isto deve levar-nos a todos - jornalistas, políticos, cidadãos - a reflectir.
Agradeço, por isso, ao Sr. Eng. Frederico Martins Mendes, director do Jornal de Notícias, por ter aceite - com algum prejuízo pessoal, atitude que registamos - estar aqui connosco a debater estes assuntos fundamentais para o futuro da nossa Democracia. A sua intervenção é garantia suficiente de um debate interessante e profícuo.
Agradeço também à Comissão Política a que tenho a honra de presidir, pelo seu trabalho inexcedível na preparação desta conferência.
E agradeço, finalmente, a presença de todos vós que são, no fundo, a principal razão de ser destas conferências.
Muito obrigado a todos.
Fernando Faria Bravo
Presidente da Comissão Política
A realidade política, como todas as realidades sociais, não existe em si mesma, mas apenas para nós. Cada um tem a sua própria visão ou interpretação da realidade política existente.
Essa interpretação pessoal que todos nós fazemos, em maior ou menor grau de profundidade, do que se passa no dia-a-dia político, é condicionada por inúmeros factores: as origens familiares, o ambiente social, as nossas próprias experiências passadas, a nossa personalidade, as nossas crenças e convicções, as nossas capacidades cognitivas, até o nosso estado de espírito no momento em que tomamos conhecimento de um dado acontecimento político. Todos estes factores influenciam a formação das nossas opiniões políticas.
Mas há ainda um outro factor, que assume uma importância fundamental: as fontes de informação política que temos disponíveis. Efectivamente, só podemos reflectir acerca daquilo que conhecemos, isto é, daquilo que nos é transmitido por uma determinada fonte de informação.
Ora, qual é hoje a principal fonte de informação dos acontecimentos políticos para o comum dos cidadãos? São os meios de comunicação social: os clássicos (jornais, rádios e TVs) e, cada vez mais, os electrónicos (internet, sobretudo).
Na última campanha eleitoral, para a eleição do Presidente da República, e comparando com eleições anteriores, praticamente não vimos comícios, sessões de esclarecimento ou debates. Nem tão-pouco vimos manifestos ou panfletos. A mensagem política passou, quase exclusivamente, pela comunicação social.
Esta é, pois, uma enorme responsabilidade dos media: a de serem, cada vez mais, a principal (se não a única) fonte de informação política. Que desafios e problemas coloca esta crescente responsabilidade? É esse um dos pontos que eu deixo para debate.
Mas a responsabilidade da comunicação social resulta também do facto de ser considerada pelos cidadãos como uma fonte independente, por um lado, e especializada, por outro. Nós ouvimos um político e sabemos que ele nos está a tentar convencer das suas razões e ideias - e muito bem, é normal que assim seja. Mas quando nós sabemos que alguém está a tentar convencer-nos de algo, levantamos sempre uma certa resistência ao que nos é dito: "Bom, vamos lá ver se ele nos diz isto apenas para nos convencer ou se as coisas se passam mesmo assim". E isto também é natural.
Com a reportagem política de um jornalista não sucede o mesmo. Nós encaramos a sua mensagem como a de alguém que está tão-só a relatar um acontecimento e não como a de alguém que nos está a tentar convencer de algo. E, portanto, somos muito mais influenciáveis pelas opiniões políticas dos jornalistas do que pelas próprias opiniões dos políticos. Esta é a segunda responsabilidade que impende sobre os profissionais da comunicação social que eu queria trazer para este debate.
E há ainda uma última responsabilidade dos media. É que hoje os cidadãos já não vêem a comunicação social como uma mera fonte de informação mas também como um intermediário político. Quando alguém quer intervir politicamente, quando quer que seja tomada uma determinada decisão política, o que faz? Procura captar a atenção dos jornais, rádios e TVs! Cortam-se estradas, queimam-se pneus, enfim, toda uma panóplia de actos espectaculares que procuram fazer a comunicação social transmitir o seu protesto ou anseio. O que é importante é que a sua mensagem passe nos media e, dessa forma, chegue aos responsáveis políticos. Assim, as tradicionais formas de participação política começam a decair: o voto desce, a abstenção sobe; o contacto directo eleitores-eleitos desce, o contacto eleitores-eleitos através da comunicação social sobe...
Tudo isto deve levar-nos a todos - jornalistas, políticos, cidadãos - a reflectir.
Agradeço, por isso, ao Sr. Eng. Frederico Martins Mendes, director do Jornal de Notícias, por ter aceite - com algum prejuízo pessoal, atitude que registamos - estar aqui connosco a debater estes assuntos fundamentais para o futuro da nossa Democracia. A sua intervenção é garantia suficiente de um debate interessante e profícuo.
Agradeço também à Comissão Política a que tenho a honra de presidir, pelo seu trabalho inexcedível na preparação desta conferência.
E agradeço, finalmente, a presença de todos vós que são, no fundo, a principal razão de ser destas conferências.
Muito obrigado a todos.
Fernando Faria Bravo
Presidente da Comissão Política