Na revista da TAP, “Up”, uma interessante entrevista a duas vozes: Luís Fernando Veríssimo e Miguel Sousa Tavares.
Luís Fernando Veríssimo é filho do escritor Érico Veríssimo e, de mérito próprio, um cronista pleno de êxito. Conheci o seu trabalho porque há uns anos o Expresso publicava crónicas suas todos os Sábados.
Eram crónicas de pequenas histórias, apontamentos, impressões, retratos do quotidiano apanhados na rede da perspicácia do autor. Nada tinham de pretensiosismo – mas eram brilhantes. Nada tinham de vã exibição de construção literária – mas eram muitíssimo bem escritas. Nada tinham de arrogância – mas exibiam uma ironia cirúrgica, que revelava o interior humano das histórias para logo o cobrir de um humor único, que o matizava. Uma maravilha.
Há uns tempos, no entanto, vi-o num programa de televisão, de visita a Portugal. E descobri um escritor tímido, acanhado mesmo. O meu espanto foi total. Onde estavam as tiradas desarmantes? Onde estavam as observações inteligentes? Onde estava a ironia mortífera? Onde estava o humor certeiro e divertidíssimo?
A resposta era só uma: estava tudo escondido. Lá, seguramente, mas escondido.
Este é o drama do tímido inteligente: em privado, com tempo e recato, a sua genialidade derrota inapelavelmente a timidez. Mas em público, sob a pressão da interacção social e da ditadura do imediato, a sua timidez oprime a genialidade.
O mesmo nesta entrevista: a propósito dos Portugueses e dos Brasileiros, da literatura ou da descoberta pessoal do país do outro, Miguel Sousa Tavares revela a sua inteligência e wit, enquanto Luís Fernando Veríssimo se perde poucos furos acima da banalidade. Fossem as respostas por e-mail e outro galo cantaria. (Quase) literalmente.
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