7.7.11

Livres

Neste momento, em Portugal, precisamos que todos os homens e mulheres Livres dêem um passo em frente. Ninguém se pode demitir da responsabilidade actual para com o nosso país. Precisamos que as decisões difíceis sejam apoiadas e, mesmo, exigidas por todos aqueles que sabem em que situação estamos e que não devem obediência a nenhum grupo de interesses.

Precisamos de todos os que são livres dos partidos, dos sindicatos, dos aventais, da obra, dos grupos económicos, dos grupos mediáticos, dos grupos religiosos, dos grupos profissionais, dos grupos académicos, da função pública, das agências de rating, dos especuladores, dos monopólios, dos oligopólios protegidos, dos oligopólios escondidos, dos lobbies e de todo e qualquer grupo de interesse que para aí exista.

Mas como assim seríamos poucos, precisamos também dos que são livres nos partidos, nos sindicatos, nos aventais, na obra, nos grupos económicos, nos grupos mediáticos, nos grupos religiosos, nos grupos profissionais, nos grupos académicos, na função pública, nas agências de rating, nos especuladores, nos monopólios, nos oligopólios protegidos, nos oligopólios escondidos, nos lobbies e em todo e qualquer grupo de interesse que para aí exista.

Precisamos de ouvir a sua voz na sociedade cada vez que um grupo de interesses procure manter o seu benefício em detrimento do bem comum.

Precisamos de ouvir a sua voz na sociedade cada vez que um grupo de interesses lance a agitação e tente o descrédito.

Precisamos de ouvir a sua voz na sociedade se o novo Governo tardar no inadiável ou tergiversar no caminho.

Mas também precisamos de ouvir a sua voz dentro do grupo de interesse, quando este procure manter o seu benefício em detrimento do bem comum.

Mas também precisamos de ouvir a sua voz dentro do grupo de interesse, quando este procure lançar a agitação e o descrédito.

Mas também precisamos de ouvir a sua voz dentro do Governo e dos partidos que o suportam, se estes tardarem no inadiável ou tergiversarem no caminho.

Porque se os seres livres deste país não o fizerem, de forma bem audível, estamos perdidos.

Há que apoiar a salvação de Portugal e há que exigir a salvação de Portugal. Sejamos livres para isso.

2.3.11

The Third Man, autobiografia de Peter Mandelson




Para quem não o conhece, Peter Mandelson foi uma eminência parda do New Labour (nem sempre muito parda, diga-se). Foi o "spin doctor" de serviço, o manobrador de bastidores, o sargento a pôr discretamente as tropas na ordem.



O título da sua autobiografia, "The Third Man", remete para tudo isso: era o terceiro homem, depois de Tony Blair e de Gordon Brown.



Mandelson acompanhou os dois desde cedo, muito antes de Blair chegar à liderança do partido. Acompanhou o percurso dos dois amigos, viu Brown a ser apontado como futuro líder durante anos e anos, espantou-se com a ascensão imparável de Blair na recta final. Tentou acalmar um frustradíssimo Brown e servir de ponte entre ele e Blair. Mas Brown nunca deixou de desconfiar que Mandelson o traiu em favor de Blair, o que ele nega veementemente.

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Com a chegada do Novo Trabalhismo ao poder, assumiu cargos governamentais de apoio próximo ao Primeiro-Ministro mas de nebulosa definição. Blair pedia-lhe simplesmente que fosse Peter, isto é, que participasse na definição da comunicação do Governo, que tratasse dos assuntos quentes, que fechasse as negociações complicadas, mas sem um cargo executivo típico. Que manobrasse nos bastidores movendo energias para atingir objectivos de outros e não às claras numa função ministerial mais tradicional.
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Este é um dos pontos mais interessantes de todo o livro. Perpassa aí uma frustração por não se conseguir libertar da imagem de homem do backstage nem, consequentemente, conseguir ser visto seriamente como estratega político ou como implementador de políticas. Nunca conseguiu libertar-se da imagem de mestre em politics, mas não em policies.



Numa opinião muito pessoal, não fica nada claro que essa imagem seja injusta. De facto, ao longo de toda a obra, Mandelson dedica muito mais tempo às manobras políticas que às discussões ideológicas, muito mais tempo às lutas internas do partido que às reformas estruturais do Governo, muito mais tempo ao seu relacionamento com outros protagonistas políticos da época do que às suas estratégias governativas, muito mais tempo ao sound-byte que ao pensamento estruturado. Mesmo o seu grande êxito político, a sua participação no processo de paz na Irlanda, foi uma participação mais de negociador fora dos holofotes mediáticos do que de implementador de políticas públicas.



Portanto, queixa-se de ser visto injustamente como manobrador-mor mas acaba por dedicar a maior parte das páginas a descrever como foi manobrador-mor.



Note-se que este qualificativo não é necessariamente negativo. Nessa tarefa ele seria provavelmente brilhante - e não é uma tarefa fácil. Provavelmente livrou Blair de muitas dores de cabeça. Deu um impulso fundamental às negociações no Ulster. Foi o único que conseguiu travar e, mesmo, inverter um pouco as tendências de descida de Gordon Brown primeiro-ministro.



Mas fica clara a amargura que sentiu por não ser reconhecido como um estratega político, um ministro competente, um homem de Estado.



O outro aspecto interessante deste livro é a perspectiva próxima, muito próxima, do que foi o New Labour e, nomeadamente, das relações nos círculos políticos restritos dos dois primeiros-ministros. Podemos acompanhar toda a História do trabalhismo inglês da viragem do século, conhecer os protagonistas, dissecar as rivalidades e as lutas internas, conhecer o funcionamento dos governos de então, perceber melhor o fim de Blair e de Brown.



Pelo meio, várias dicas sobre como sobreviver na Política mediatizada actual. Um bom exemplo? "Nunca ir falar com os jornalistas sem ter uma boa história preparada para lhes dar".



A ler, decididamente.