22.9.08

Vamos ver se isto não se altera...



Temos um Primeiro-Ministro mafioso:
«Apesar de intimada pela Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA), em Janeiro, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) só agora permitiu que o Expresso consultasse o "processo Sócrates", de quase 300 páginas. [...] A ERC concluiu que os telefonemas efectuados para o jornalista do PÚBLICO que investigava o caso, Ricardo Dias Felner, e para o director do jornal, José Manuel Fernandes, apesar de terem sido feitos pelo próprio Sócrates, não reuniam "elementos factuais que comprovem ter existido o objectivo de impedir, em concreto, a investigação".Tanto Ricardo Dias Felner como José Manuel Fernandes, nos depoimentos que fizeram na ERC, disseram que o modo como foram abordados pelo primeiro-ministro resultou numa "tentativa de pressão ilegítima". O director do PÚBLICO foi ainda mais longe, reportando-se à conversa com Sócrates, no decurso da qual o primeiro-ministro teria dito: "Fiquei com uma boa relação com o seu accionista [Paulo Azevedo] e vamos ver se isto não se altera."» (in Público de ontem, sem link)
Esta frase consta de um relatório oficial da ERC. Em qualquer democracia civilizada, esta frase seria um escândalo.
Pessoalmente, parece-me haver matéria mais que suficiente para a ERC ir bem mais longe e ser bem mais consequente.
Mas, independentemente disso, parece-me que politicamente isto é um escândalo do maior calibre. Como podemos aceitar um PM que lança ao vento este tipo de ameaças, ainda que veladas?!?! Note-se que não foi um obscuro assessor com excesso de zelo e défice de senso, foi o próprio PM. Note-se que a mensagem não chegou por vias travessas, com cuidados resultantes de um qualquer prurido ou receio, foi em discurso directo.
O nosso PM tem o total e absoluto desplante de se virar para o Director de um jornal e dizer uma frase que poderia sair da boca de um rufia das ruas de Nova Iorque... E fá-lo com a segurança de quem sabe que sai impune.
Nota: a notícia do Público não confirma nem desmente o facto; limita-se a um "teria dito". É estranho que assim seja, uma vez que o Director não deveria estar propriamente incontactável. E, por isso mesmo, parece-me difícil que a notícia saísse se de facto o Director não tivesse reproduzido essa frase à ERC.