9.2.07

Porque voto SIM no referendo

No cerne da questão não estão os impostos, o Serviço Nacional de Saúde, a propriedade da barriga das mulheres ou a modernidade, argumentos que radicais de um lado e outro têm aduzido mais vezes que as que o meu estômago tolera.
No cerne da questão está isto: a vida humana. Não a vida, mas a vida humana.
Para os defensores do NÃO, a vida humana começa no momento da fusão do espermatozóide com o óvulo. Aí está a vida humana. Pelo menos em potência.
Ao contrário do que os radicais do SIM querem fazer crer, esta é uma posição respeitável. A sua convicção é forte e compreensível, por isso deve ser respeitada. E eu respeito, mas não concordo.
Uma vida é humana não apenas por ser vida, mas por ser... humana (passe a redundância). Sobretudo por ser humana.
O que define essa humanidade não é a biologia, mas a rede de afectos. A nossa humanidade não resulta de um cérebro a funcionar, de um fígado eficaz, de um músculo activo.
A nossa humanidade resulta das nossas relações: com a mãe e o pai, com os irmãos, com a família, com os amigos, até com os inimigos.
A nossa humanidade resulta desta rede de relações que nos torna seres em comunidade, parte integrante de redes e sub-redes e sub-sub-redes de relacionamentos com o outro, com os outros. Redes de afectos, de sentimentos, de emoções, de amores, de ódios e de tudo o mais que nos torna humanos.
E portanto eu pergunto: que vida humana é esta que tem de ser vida a qualquer preço, mesmo que à custa da parte humana?
Que vida é esta que, tantas vezes, queremos condenar à pobreza extrema, ao desinteresse dos pais, à infância miserável, à família desestruturada, ao abuso constante, à violência, ao presente sem luz, ao futuro sem esperança?
Que vida é esta que queremos condenar à dificuldade e ao sofrimento?
Que vida humana é esta que queremos condenar à desumanidade?
E porque queremos condenar a mulher que, face a estas perspectivas, opta por não querer continuar a gravidez porque sabe que não pode assegurar essa humanidade básica?

Perante uma situação concreta, duvido que recomendasse a alguém fazer uma IVG. Mas não me sinto na posição moral de condenar uma mulher que decide não continuar uma gravidez por achar que, por algum motivo, não consegue assegurar toda essa humanidade a essa vida.

Por isso voto SIM.
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7 comentários:

Anónimo disse...

...e eu a pensar que já tinha todos os pontos de vista...mas também não surpreende de quem vem... ;)
Abraço

i disse...

Não podia estar mais de acordo!
Parabéns pelo post...
Bjos,
i

bravo disse...

tiago, mas concordas ou não?

i, obrigado!

Abraço/Bj!

Doscas disse...

Respeito... mas discordo... e muito!!!

Anónimo disse...

Concorde-se ou não (e eu concordo com o Sim com o teu porquê não tanto) tenho de te dizer:
- Bem vindo de volta!

Muito tempo depois Fernando Bravo volta a "postar" algo inteligente.

Estiveste de férias?!

Sara disse...

E votaste muito bem! :D

Anónimo disse...

Embora so tenha dito agora...claro q concordo !
...isto é mais um dos campos de visão possiveis de quem votou sim...não o factor principal, mas mais um. Eu ao votar sim...quase que isolei só a hipotese de quem quiser realizar uma I.V.G. o poder fazer. Consigo extrair depois, várias correntes de argumentos, nos pilares, científicos, morais,filosoficos, religiosos...mas sempre à volta do pilar que para mim é mais importante. Que é o simples facto de poder decidir! (cada um pelo seu julgamento, independentemente se é bom ou mau, se é justo ou injusto) :D